terça-feira, 12 de janeiro de 2010

NOITE FELIZ



É natal chegando luzes vão piscando , alegria e paz no coração, paz no transito também, noite de natal é a melhor noite para se trabalhar em São Paulo, os taxisistas estão reunidos com suas famílias e somente uns poucos perdidos ou de pouca fé como eu se dispõe a trabalhar, faltam carros e sobram passageiros com perus saborosos e farofas a caminho dos desencontros.
As pessoas usam o táxi em noite de natal para irem as festas, estão cheias de esperanças e alegrias para encontrarem seus familiares além de carregarem sacos com embalagens de presentes que por si só já seriam o presente, essa gente parece muito contente, muito feliz cheia de amor pra dar em noite do menino Jesus, quando descem do táxi fazem questão de receber os centavos do troco mesmo tendo alugado a orelha do taxista com alguma reclamação no caminho se não é o transito é o maldito eu a reclamar de alguém, é uma alegria para nós taxisistas, que de certa forma participamos um pouco desse espírito de irmandade, sobram passageiros é garantia de bom faturamento e diversão.
Estou parado no hotel e um jovem se dirige ao meu táxi e me pergunta se estou livre, ressabiado digo que estou esperando uma pessoa ele me pergunta se não poderia levar ele, a irmã e a mãe, para zona leste, estavam carregados de farofa, ele aponta para sua casa peço que aguarde vou solicitar outra unidade, percebendo que se tratava de gente de família resolvi levá-los.
Paro o carro em frente à casa, no banco da frente entra o rapaz, no traseiro a mãe, a filha e o peru todos mudos, a não ser o peru que exalava um cheiro delicioso e o vapor fazia o papel alumínio tilintar, saímos do Itaim com destino a zona leste, a senhora aproveitou que estava toda família reunida e resolveu fazer terapia no táxi foram cinqüenta minuto de cessão, questionou o filho sobre suas amizades, apontando defeitos em cada amigo ela mesma ia perguntado e respondendo os defeitos com a filha pegou mais leve só resmungou do baixo desempenho da escola no que a menina prometeu a mãe desempenho melhor, do peru reclamou que não havia apitado e a carne ficou ressecada não ficou como o da propaganda, sinceramente não sabia como voltar para casa, estava num bairro escuro de ruas estreitas, de casas pequenas mas de gente festeira, muitas se reunião na frente das residências aguardando com fogos nas mãos a chegada da meia noite num clima de Jesus me ama.
Retornei para o Itaim, na porta do hotel pego um casal na faixa dos sessenta para levá-los até a Vila Nova conceição, trajeto curto mas tempo suficiente para o Sr. tentar me convencer a trocar meu carro por outro de marca japonesa ele e a mulher tinham uma afinidade tão grande com automóveis foram descrevendo sem que eu perguntasse os quatro veículos que eles tem na garagem lá no Rio, um francês, um japonês, um coreano outro alemão, ao chegarmos estávamos diante de um edifício enorme tipo um por andar, na frente vários seguranças com seus radinhos brincando de gente séria, a corrida
ficou em deis reais e cinqüenta centavos pediram desconto de natal, pagaram deis, já era quase meia noite, sumiram, o segurança me pergunta se não poderia levar um senhor para o hotel ele havia solicitado um taxa há uma hora e não fora atendido pois não havia táxis, acenei afirmativamente ele me pediu que aguardasse um instante que ele já estava descendo.
Pouco segundo depois, saiu um senhor apressado do edifício como se estivesse fugindo abriu a porta da frente se sentou e suspirou com sotaque de português:
- Rapaz, me salvaste a noite a chafarica deste meu amigo me convidou para esta rebaldaria de natal, estava a uma hora no telefone falando com amigos em Miami como não havia táxi ordenou que arrumassem um quarto para que eu dormiste cá com eles, pensei estou lixado vol ter que agüentar mais rebaldaria, passaram a noite contando vantagens entre os irmão quem havia ganho mais dinheiro, quem saiu com quem, quem jantou com quem, quem conheceu quem estão todos tesos devendo aos bancos, fizeram a velha chorar, o pai teve que intervir é natal de egos todos perdemos este ano com a crise, todos perdemos com esse comportamento, já passei o natal em muitos lugares no mundo e não vejo a hora de ir para meu quarto dormir, por favor me leve para o hotel estou muito feliz de estar neste táxi a caminho de casa não ia agüentar mais com essa gente.
Percebi o quanto aliviado aquele senhor se sentia me lembrei do tempo que eu era casado e dos “natais familiares” percebi o quanto estava aliviado por estar trabalhando e vivendo a vida por outros ângulos, me senti aliviado em encontrar semelhantes que também se sentem sós mesmo estando acompanhados pelas pessoas de bom ego que dizem nos amarem, percebi que o melhor lugar no mundo para se isolar e se sentir só é nas grandes cidades, é nas pêras como diria o português.
Já passava da noite feliz, foram dezesseis horas dedicadas a levar gente mal acompanhada e só, como ia começar as cinco no dia seguinte fui para casa dormir feliz.


Fabio Gonzalez