Estou completando dois anos como taxista depois de vinte e cinco anos como fotógrafo publicitário, confesso renasci, sai da casca e acordei para o mundo real, nascido na Vila Olímpia criado no Real Paque dois bairros da periferia que se tornaram nobres, hoje entendo que cresci no paraíso no quadrilátero seguro da elite dominante que produz a informação, cultura, política, propaganda, com cara de dominante para dominante decifrar, nem os letrados estão entendendo imagina a massa dos noventa por cento de aleijados intelectuais.
Com o táxi rodo em média duzentos e cinqüenta quilômetros por dia o que me dá a possibilidade de conhecer minha cidade através de meu pára-brisas, conhecer as regiões mais longínquas e inóspitas, pessoas, gente, bichos, executivos, funcionários, desempregados, ricos pobres suas angústias, medos, preocupações, a leitura que cada um faz da nossa amada, é engraçado sempre disse isso ao meu pai que é pesquisador de mercado, nas pesquisas as pessoas dão uma resposta no táxi elas mostram outras e no comportamento parecem seres de outro reino meu pai não entendeu, poucos pesquisadores entendem Froid explica, Maquiavel também em seu livro “O Príncipe”: as pessoas devem parecer: missericordiosas, confiáveis, humanas, religiosas e corretas mas no táxi escorregam assim como os políticos, dirigentes, empressários, taxistas, falhamos somos imperfeitos, mal educados, mal lapidados muito embora transportemos altos executivos com MBA, pós graduação, Harward e Sorbonone pegos na porta do melhores hotéis da cidade e dos maiores bancos de investimento ultimamente esses passageiros andam meio sumidos eles vão e vem conforme a variação da bolsa.
Nos esquecemos que somos todos educadores seja através da fala ou do nosso comportamento muito embora achemos que a obrigação de educar é do estado dos professores, cada um deveria fazer sua parte, pois estamos na vida para aprender e também para ensinar.
Quando completei dezoito anos vendi minha moto para comprar minha primeira câmera fotográfica que é uma forma de a gente escrever não com as letras, mas com a luz de qualquer forma o primeiro testo de luz a gente nunca esquece, eu e meu amigo fotógrafo fomos para beira da rodovia Dutra pegamos uma carona com uma caminhoneira e decemos no Maranhão foram noventa dias viajando pelo nordeste na boléia, carroceria, dentro dos carros das cegonheiras, jegues carroças, e muita sola de tênis fotografando muita gente pobre mas solidária com esperança, com cara boa pobre mas digno, sempre nos ofereceram uma rede para dormir e o pouco que se comia era repartido como irmãos, hoje viajo por nosso pais São Paulo e vejo estampado no rosto da periferia a descrença, a violência uma cara de mal saída dos filmes de Fritz Lang pense no Haiti o Haiti é aqui, a bolsa família parece ter pouco efeito por aqui talvez desse mais resultado se desenvolvêssemos o Kit USA composto de Tênis, calça, celular, camiseta, vídeo game, dvd tudo de marca de preferência importados, mais uma trouxinha esperta pra ficar legal a gente aqui em SP não quer só comida a gente quer o que querem os meninos riquinhos que a gente vê na TV e se a gente não tem a gente ganha, e também fazemos maldades por que a gente ta com raiva mais nois não sabe porque.
Dois anos se passaram e continuo acreditando que a vida vem aos pares e que o par perfeito é um par de sapatos velhos que ainda serve basta você me calçar que eu aqueço o frio dos seus pés, durante esses messes foram distribuídos como cortesia em meu táxi na tentativa de agregar valor a minha boa prestação de serviços: mil e quinhentos bombos de boa qualidade o que me deu o título de táxi bombom, duzentos copos de água mineral geladinha, cinqüenta CDs gravados com mantras indianos para relaxar, barrinhas de cereal, o tiro saiu pela culatra, noventa por cento dos passageiros não deram gorjeta nem muito obrigado, embora a grande maioria seja de educação superior, pessoas que viajam com freqüência ao exterior, que lá praticam as leis do país pagando os deis por cento pelo serviços prestados eles não conseguem assimilar o hábito e quando retornam ao país retornam também as origens passando a não praticar os preceitos de Maquiavel e sim os preceitos “Maquiavélicos” o engraçado é que esses executivos pagam uma grana preta para fazerem cursos do NBB Management, buscando diferencias, formas de agregar valor a prestação se serviços entram no táxi me parabenizam pela boa prestação de serviços mas na hora de por a mão no bolso o reconhecimento não aparece logo entendi o recado seis meses depois cortei os bombons, a água, os CDs, cansei de dar pérolas......... gosto desse Sr. Froid ele tem muito a nos ensinar por enquanto continuo a dar bom dia mas aproveitem pois estou pensando em cortar, adoro os gringos nunca pensei que algum dia isso fosse sair da minha boca é que eles são generosos, educados, nos dão gorjeta em dólar, nos dão presentes, nos convidam para almoçar em bons restaurantes, nos tratam como gente, nos respeitam, querem aprender com a gente nos fazem sentir gente a esses e aos bons brasileiros meus parabéns por me ensinarem tanto e por me fazerem acreditar que vale a pena acreditar, aos demais digo: “sou menino passarinho com vontade de voar, vocês que ai estão passarão eu passarinho.”
Táxi divã o motorista também, Foid ou desce.
Fabio Gonzalez
terça-feira, 7 de outubro de 2008
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